Da Folha:
Lava
Jato prioriza mapear repasses de dinheiro vivo em propina
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal já têm a
primeira etapa de investigação traçada para tentar comprovar os relatos de
delatores da Odebrecht de que houve pagamentos de caixa dois e propina em
dinheiro vivo a políticos.
Os investigadores querem mapear onde, quando e como
ocorreram as entregas de dinheiro em espécie informadas pelos executivos. Um
dos maiores desafios agora será comprovar os pagamentos realizados em moeda.
A PF vai solicitar, por exemplo, o registro de controle de
entrada no dia 28 de maio de 2014 no Palácio do Jaburu, residência oficial da
vice-presidência da República, onde vive o hoje presidente Michel Temer.
O pedido faz parte de diligências autorizadas pelo ministro
Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, na investigação sobre os
ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral),
acusados de receber propina.
Naquele data de maio de 2014, ocorreu jantar em que Temer e
Padilha teriam discutido com Marcelo Odebrecht doação ao PMDB em 2014 –o valor
entregue teria sido de R$ 10 milhões, em espécie.
A polícia, a pedido da Procuradoria-Geral da República, vai
atrás de informações sobre possíveis encontros do ex-executivo da Odebrecht
Henrique Valladares com Edison Lobão (PMDB-MA), senador e ex-ministro de Minas
e Energia, outro apontado como destinatário de propina em dinheiro vivo. A PF
vai pedir registros dos acessos ao ministério e ao Senado.
Também receberam recursos desta maneira, por meio de
intermediários, segundo os delatores, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o
ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes (PSDB), o ex-prefeito do Rio
Eduardo Paes (PMDB), entre outros.
Ao menos 166 citados nos depoimentos serão intimados a depor
a partir da próxima semana. A lista inclui políticos alvo de inquéritos,
autoridades não investigadas, além de empresários, operadores, entre outros que
vão falar como testemunhas.
O advogado José Yunes, ex-assessor de Temer e personagem do
episódio dos R$ 10 milhões da Odebrecht ao PMDB, será chamado a depor.
Levantamento da Folha aponta que a PF terá de cumprir mais
de 240 medidas neste primeiro momento, excluindo as que se referem a dados
telefônicos, fiscais e bancários, mantidos sob sigilo.
A polícia tem reforçado seu efetivo em Brasília, sobretudo
em razão da possibilidade de novas operações decorrentes desses inquéritos.
A polícia vai rastrear ações parlamentares em tramitações de
medidas provisórias que interessavam à empreiteira –nas delações, os executivos
apontam esquema de contrapartidas em troca da aprovação de projetos de
interesse do grupo.
Os investigadores querem ainda obter informações sobre voos,
hospedagens e registros de entradas e saídas em órgãos públicos, como
Congresso, Ministério da Integração Nacional e Secretaria de Aviação Civil.
Outra medida autorizada por Fachin trata da obtenção de
registros de presença do ex-diretor da Odebrecht Sérgio Neves, hoje delator, e
de outros funcionários da empreiteira na concessionária Minas Máquinas, em Belo
Horizonte, ligada a Oswaldo Borges. Ele é apontado como operador financeiro do
senador Aécio Neves (PSDB-MG) em obras da Cidade Administrativa, que abriga a
sede do governo mineiro.
Na lista de políticos investigados no Supremo, há 8
ministros, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados.
Do total de pessoas que serão intimadas pela PF, cerca de
100 são políticos.
Ex-funcionários da Odebrecht também serão chamados para
novos depoimentos em que detalharão os casos delatados por eles. O patriarca do
grupo, Emílio Odebrecht, e seu filho Marcelo estão na lista.
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