SÃO PAULO - O senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) disse
que o PT "não inventou a corrupção na Petrobras". Delcídio, que atuou
durante décadas no setor energético, afirmou contudo que, com o Partido
dos Trabalhadores, houve uma "sistematização" da atuação partidária para
operar desvios na Petrobras e em outras estatais.
"Realmente,
esse processo foi num crescendo. Qual a diferença (em relação a governos
anteriores)? Começou a haver uma espécie de atuação sistêmica nas
diretorias e atuação partidária muito mais ampla, concatenada, com
participação das principais lideranças partidárias que compunham a base
do governo Lula e Dilma. Deu no que deu", afirmou o senador cassado.
Segundo
Delcídio, desde o governo FHC, Itamar e anteriores, havia corrupção nas
estatais, mas não de forma tão sistematizada. Para explicar, ele relata
que governos anteriores ao PT não chegavam ao "detalhe" de indicar
gerentes e chefes de departamento ligados a partido. "O diretor ajustava
sua equipe, não tinha isso de colocar em todos os espaços alguém ligado
a partido".
Lula e Dilma sabiam. Questionado se
corroborava a afirmação de que Lula e Dilma sabiam do esquema de
corrupção, Delcídio repetiu que sim. Para o ex-senador, a argumentação
de que Lula não sabia dos desvios ou que Dilma recebeu um parecer
"falho" para decidir sobre o investimento na refinaria de Pasadena é
assumir que as pessoas são "idiotas". "Tenha paciência, é achar que todo
mundo é ignorante, idiota. A Petrobras sempre foi do presidente."
Presidente
do Conselho da Petrobras, à época da aquisição de Pasadena, Dilma
alegou ter recebido um parecer falho da diretoria Internacional para
chancelar o negócio. Segundo o Tribunal de Contas da União, a compra da
refinaria rendeu um prejuízo de quase US$ 800 milhões à Petrobras. "Nas
estatais, especialmente na Petrobras, não há a possibilidade de você
levar um processo (parecer) incompleto pra diretoria, pro conselho de
administração", afirmou Delcídio ao citar todas as instâncias internas
da companhia pelas quais passam esse tipo de documento. Questionado se a
então presidente da República mentiu sobre o caso, Delcídio respondeu
afirmativamente. "Absolutamente, ela não assumiu a responsabilidade que
era dela."
Delcídio repetiu também a alegação que, sob comando
direto de Dilma, negociou a indicação de Marcelo Navarro para o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) em troca da decisão favorável a liberação da
prisão de empreiteiros implicados na Lava Jato. Segundo o ex-senador,
ele cobrou em conversa com Navarro, no térreo do Palácio do Planalto, em
uma "salinha", que ele cumprisse o compromisso de liberar determinadas
pessoas que estavam presas em Curitiba. "Ele disse: Sei muito bem da
minha tarefa. Eu fui chamado na época de mentiroso, mas o tempo é o juiz
das coisas. O Marcelo Odebrecht, em delação agora, confirmou essa
história."
Sobre Lula, Delcídio repetiu que o petista pediu que
ele solucionasse o "problema" com Nestor Cerveró - que estava preso e
com suspeita que fecharia acordo de delação. "Ele (Lula) me disse:
precisamos resolver essa questão."
Aécio e PMDB. Apesar
de confirmar a informação de que o senador Aécio Neves, presidente do
PSDB, teria envolvimento nos desvios de Furnas, Delcídio Amaral evitou
frisar a suposta culpa do tucano. Disse apenas que, com a evolução da
Lava Jato, a questão vai se esclarecer, pois Furnas é a "joia da Coroa" -
empresa com atuação no setor energético do Sudeste, a região mais
valorizada do País - e há muita informação já nas investigações sobre
desvios envolvendo ela. "Não está tão difícil rastrear de onde vem, pra
onde vai e quem recebe. As evidências e o histórico de Furnas são
inapeláveis."
A respeito do PMDB, Delcídio disse que o partido
teve uma "posição proeminente" nos desvios em estatais. "Isso vai
aparecer nitidamente", disse ao citar o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL) - a quem chamou de 'cangaceiro', o senador
licenciado e agora ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR) e o
senador Edison Lobão (PMDB-MA).
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