Durante sua defesa no Conselho de Ética, o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse que enfrenta os adversários nas urnas.
"Eu
não quero a extinção dos meus adversários que não seja pela disputa
eleitoral", disse, sem se referir diretamente à presidente afastada Dilma Rousseff. O peemedebista aceitou o pedido de impeachment horas após o PT anunciar que votaria contra ele no colegiado.
Ele defendeu a legalidade no afastamento da petista e negou envolvimento em esquemas de corrupção
com participação do PT.
"Não é possível ter qualquer tipo de relação
com o governo ao qual eu estava fazendo oposição ferrenha", disse.
Ele
voltou a dizer que sofre perseguição do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot.
É a primeira
vez que o parlamentar vai à Câmara após o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidir, por unanimidade, o seu afastamento.
Defesa técnica
Cunha negou repetidamente ter contas no exterior e sugeriu que o colegiado entrevistasse uma de suas contas na Suíça. Ele rebateu todos os argumentos técnicos da acusação.
“Vossa excelência devia ter tido a oportunidade de ouvir o trust”, disse Cunha em resposta ao relator, Marcos Rogério (DEM-RO). O trust é um tipo de investimento ao qual o peemedebista é considerado beneficiário.
“Não
há elementos de prova que seja titular, dono da conta, que possa
movimentar a conta. Não escondi nada. O que efetivamente existe é um
trust, ao qual o patrimônio não me pertence, não fui autorizado a
movimentar a conta, não tenho titularidade”, afirmou.
“Considerar
isso como conta bancária igual a uma conta que qualquer um assina um
cheque e saca o dinheiro é uma comparação absurda”, completou.
Réu por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato, Cunha é acusado de mentir à CPI da Petrobras ao negar ter contas no exterior. As contas foram comprovadas pelas investigações.
Cunha se recusou a responder a questionamentos sobre fatos como recebimento de propina, apontados por delatores da Lava Jato, o que foi criticado pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).
“O
trust não tem dono, não é conta, não é investimento. É uma benção. É
uma expectativa divina. Esse dinheiro. nasce. Pena que não para todos
brasileiros", emendou o deputado Sandro Alex (PSD-PR).
Mulher bonita
O
deputado Nelson Marchezan (PSDB-RS) ironizou a confiança de Cunha na
administração do trust pelo banco suíço. “Se essa trust fosse uma
mulher, ela deveria ser maravilhosa porque é tanta paixão cega a ponto e
colocar tantos recursos e não ter curiosidade de saber o que foi feito
com esses recursos”, disse.
“Efetivamente o trust não é uma mulher bonita porque ele foi criado pela Convenção de Haya”, rebateu o acusado.
Nulidade
Na avaliação de Cunha, o processo será anulado posteriormente porque há irregularidades. Ele entende que Marcos Rogério não poderia ser relator por ter se filiado ao DEM, partido do mesmo bloco do representado.
Também contesta a oitiva de testemunhas que relataram fatos que não estavam na representação original,
como o recebimento de propina. Os questionamentos serão apresentados na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) após o fim do processo no
Conselho.
O relator entrega
o parecer pela cassação até 31 de maio. No colegiado, o texto precisa
de maioria simples, no caso, 11 votos, para ser aprovado. Se aprovado no
colegiado, o relatório vai para o Plenário, onde precisa de 257 votos
para passar.
Se arquivado, o Conselho precisa votar um novo texto. Aliados de Cunha articulam um parecer alternativo com uma punição mais leve.
Impedimento
No
início da sessão, o vice-presidente do Conselho, deputado Sandro Alex,
negou quatro questões de ordem de aliados de Cunha que pediam o
impedimento do presidente, deputado José Carlos Araújo (PR-BA). Alex
considerou que os pedidos tem como objetivo “mudar o objeto da
representação e de postergar a apreciação por este órgão”.
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