BBC Brasil - Os oito homens mais ricos do mundo possuem tanta riqueza quanto as
3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre do planeta,
segundo a ONG britânica Oxfam.
A organização de assistência social
afirmou que a comparação, questionada por críticos, é resultado de uma
coleta mais precisa de dados, e que o fosso entre ricos e pobres se
revelou "bem maior do que temia".
A divulgação do relatório da ONG coincide com o início do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Mark
Littlewood, do centro de estudos londrino Institute of Economic
Affairs, disse que a Oxfam deveria se concentrar em sugestões para
elevar o crescimento.
"Como uma organização 'antipobreza', a Oxfam
parece estranhamente preocupada com os ricos", afirmou o diretor-geral
do centro de estudos, conhecido pela defesa da economia de mercado.
Ben Southwood, chefe de pesquisa do Adam Smith Institute, outro
centro de estudos de tendência conservadora, disse que não é o poder
aquisitivo dos ricos que importa, mas o bem-estar dos pobres, que
estaria aumentando a cada ano.
"Todo ano somos induzidos a erro
pelas estatísticas de riqueza da Oxfam. Os dados são ok - vêm do (banco)
Credit Suisse - mas a interpretação não é", afirmou.
'Encontro de elite'
O evento anual em Davos, um resort de esqui na Suíça, atrai muitos líderes políticos e empresários globais.
Katy
Wright, chefe de assuntos globais da Oxfam, afirmou que o relatório
ajuda a organização a "desafiar as elites econômicas e políticas".
"Não
nos iludimos e sabemos que Davos nada mais é do que um mercado de
palestras para a elite mundial, mas tentamos usar esse foco",
acrescentou.
Os oito bilionários mais ricos do mundo
1. Bill Gates (EUA): cofundador da Microsoft - US$ 75 bilhões
2. Amancio Ortega (Espanha): fundador da Inditex, da Zara - US$ 67 bilhões
3. Warren Buffett (EIA): maior acionista da Berkshire Hathaway - US$ 60,8 bilhões
4. Carlos Slim Helu (México): dono do Grupo Carso - US$ 50 bilhões
5. Jeff Bezos (EUA): fundador e principal executivo da Amazon - US$ 45,2 bilhões
6. Mark Zuckerberg (EUA): cofundador e principal executivo do Facebook - US$ 44,6 bilhões
7. Larry Ellison (EUA): cofundador e principal executivo da Oracle - US$ 43,6 bilhões
8. Michael Bloomberg (EUA): cofundador da Bloomberg LP - US$ 40 bilhões
O
economista britânico Gerard Lyons afirmou que o foco na riqueza extrema
"nem sempre mostra toda a situação" e que deveriam haver esforços para
"garantir que o bolo econômico esteja crescendo".
Contudo, ele
disse considerar que a Oxfam está certa ao destacar companhias que
podem estar alimentando a desigualdade com modelos de negócio "focados
em gerar lucros cada vez maiores para donos ricos e executivos de
ponta".
Wright, da Oxfam, afirmou que a desigualdade econômica
está dando combustível para uma polarização na política, citando como
exemplos a eleição de Donald Trump nos EUA e a saída do Reino Unido da
União Europeia.
'Fatia justa'
"As pessoas
estão insatisfeitas e cobrando alternativas. Sentem-se deixadas para
trás porque não trabalham duro e não conseguem aproveitar o crescimento
do país", disse a diretora da ONG.
A Oxfam defende uma "economia
mais humana", e pressiona governos a combater a evasão fiscal e os
lucros excessivos de executivos, com maior taxação da riqueza.
Também
reivindica que líderes empresariais paguem "uma fatia justa de
impostos" e ofereçam a seus funcionários quantias superiores aos
salários mínimos dos países.
A ONG britânica produziu relatórios
semelhantes nos últimos quatro anos. Em 2016, calculou que as 62 pessoas
mais ricas do mundo detinham tanta riqueza quanto a metade mais pobre
da população da Terra.
O número caiu para apenas oito neste ano porque há dados mais precisos, afirmou a Oxfam.
E
ainda vale a afirmação, segundo a organização, de que a riqueza
acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial equivale à riqueza
dos 99% restantes.
Alguns dos bilionários da lista já doaram boa parte de suas fortunas.
Em 2000, Bill Gates e sua mulher, Melinda, criaram uma fundação privada
que já distribuiu mais de US$ 44 bilhões.
Em 2015, Mark
Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan, prometeram doar 99% de sua
riqueza ao longo de suas vidas, o que equivalia à época a US$ 45
bilhões.
É preciso ter renda e ativos estimados em US$ 71,6 mil
(cerca de R$ 229 mil) para alcançar os 10% mais ricos do mundo, e US$
744,3 mil (cerca de R$ 2,3 milhões) para figurar entre o 1% mais
abastado.
O relatório da Oxfam é baseado em dados da revista de negócios Forbes e em um relatório do banco Credit Suisse sobre distribuição da riqueza global desde o ano 2000.
A
pesquisa usa o valor dos ativos, principalmente bens e terras, menos
dívidas, para determinar as "posses" das pessoas em questão. Os dados
excluem salários e rendimentos.
A metodologia foi criticada por
considerar, por exemplo, que um estudante com muitas dívidas mas grande
potencial de ganhos no futuro seja pobre.
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