A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta que a Odebrecht
pagou propina em dinheiro vivo a um emissário do governador de Minas
Gerais, Fernando Pimentel (PT), em ao menos sete ocasiões. Para receber
os repasses, cada um de pelo menos 500.000 reais, o agente supostamente a
serviço do petista precisava dizer uma senha ao portador do dinheiro da
empreiteira. “Manteiga”, “manga” e “alface” entre outros alimentos
hortifrutigranjeiros estavam entre os códigos secretos para destravar o
suborno.
As informações constam da nova denúncia oferecida pela PGR
contra o governador, o herdeiro e ex-presidente da Odebrecht, Marcelo
Odecrecht, e mais quatro pessoas por corrupção. O caso foi investigado
na Operação Acrônimo. Conforme a peça, o empreiteiro, atualmente preso
pela Lava Jato, teria oferecido 15 milhões de reais para que Pimentel
facilitasse empréstimos do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) para obras na Argentina e em Moçambique.
Na época
dos fatos, entre 2012 e 2014, Pimentel era ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, pasta à qual o banco é subordinado. Ele
também presidia a Câmara de Comércio Exterior (Camex), instituição que
estabelece as diretrizes para as políticas de financiamento a prazo,
inclusive para as coberturas de risco, como os seguros de crédito.
Detalhes
do esquema foram dados pelo empresário Benedito Rodrigues de Oliveira, o
Bené, apontado como “operador” do governador. Ele firmou um acordo de
colaboração premiada com a Acrônimo. Nos depoimentos, contou que, após
conversas de Pimentel com Marcelo Odebrecht, passou a tratar dos
pagamentos com o João Carlos Mariz Nogueira, então diretor de Crédito à
Exportação da empreiteira.
A partir das declarações, a Polícia
Federal buscou mais provas do envolvimento do petista no esquema. Numa
troca de mensagens com o executivo em 17 de julho de 2013, um dia após a
Camex aprovar a cobertura do financiamento na Argentina pelo seguro do
crédito à exportação, Bené avisa ao executivo, supostamente referindo-se
a Pimentel: “Deu certo, né!!! Nosso amigo acabou de me falar!!!”. Em
seguida, emenda: “Você não pede, camarada! Vc manda! Falei que a nossa
turma é comprometida!”.
Conforme a denúncia, que será analisada
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), Bené acionou um de seus
funcionários, Pedro Augusto de Medeiros, para recolher a propina da
Odebrecht em hotéis de São Paulo. Antes das entregas, Nogueira repassava
por mensagem a senha a ser apresentada pelo emissário. O dinheiro era
estocado em Brasília e, conforme a acusação, custeou despesas da
campanha de Pimentel a governador, em 2014.
Além de “manteiga”, “manga” e “alface”, houve “algodão”, “escada” e “4-branco 5-pimenta”, conforme as perícias feitas pela PF.
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