Para
uns, morreu o herói da revolução e libertador dos cubanos. Para outros,
morreu o ditador sanguinário e carcereiro do povo. Mas opositores e
apoiantes são unânimes em considerar que morreu uma figura histórica.
Embora
doente e afastado do poder há algum tempo, para os cubanos a morte de
Fidel Castro é um choque. Morte e Fidel eram duas palavras que não
combinavam. Tanto mais que Castro lhe parecia imune: em 1953, com apenas
113 rebeldes armados, conduziu um ataque armado contra o maior
quartel-general da ditadura de Fulgêncio Batista, e sobreviveu.
Mas
não só isso: segundo a contagem oficial, registaram-se 600 tentativas
de atentado contra a sua vida, todas fracassadas, claro. E, bem
humorado, o próprio Castro comentava: "Como não tiveram sorte, não
tiveram sucesso nas suas tentativas, eles dizem que estou doente ou
morto. Na verdade, eu tenho apenas um problema. Se um dia eu estiver
realmente morto, ninguém acreditará".
O revolucionário
Dizia-se
que as mulheres o amavam e os homens o seguiam. Ao menos os cubanos
pobres, pois as elites fugiram para os Estados Unidos da América logo
após a revolução, ou o mais tardar em 1961, quando Fidel Castro
transformou a sua revolução anti-fascista numa revolução socialista:
"Esta é uma revolução democrática e socialista do povo humilde para o
povo humilde. E estamos prontos a dar a nossa vida por essa revolução
socialista. Operários e camponeses, homens e mulheres prometem
defendê-la até à última gota de sangue."
Fidel Castro não tinha
origem humilde. Era filho de um fazendeiro rico que se reinventou com
líder comunista. Quatro décadas mais tarde, quando do muro de Berlim já
só restavam escombros e a União Soviética era uma memória, Fidel Castro
continuava no poder como um dinossauro comunista. Viu onze Presidentes
americanos passarem pela Casa Branca, todos eles seus inimigos de
estimação e o seu pretexto preferido para governar com mão de ferro.
Mão de ferro
A
ameaça do norte e o embargo permamente proclamado por Washington sempre
serviram de desculpa para os problemas económicos e a pobreza de um
povo inteiro. E quem discordasse publicamente com esta avaliação corria o
risco de ir parar à cadeia.
Porque a par da assistência médica,
da alimentação básica e da alfabetização, Castro também trouxe ao seu
povo a opressão, a arbitrariedade e o paternalismo, para não mencionar
os discursos: "Sim, lutarei toda a minha vida, enquanto a razão não me
abandonar, até ao último segundo.”
Mas, na verdade, em 2006
problemas de saúde obrigaram o Presidente a entregar o poder ao
vice-presidente, o seu irmão Raúl Castro, que acabou por ser eleito em
2008, quando Fidel se retirou oficialmente da política. O novo
Presidente encetou algumas reformas no sentido de liberalizar a
economia. Com a morte de Fidel, há quem tenha esperanças que se sigam
agora rapidamente as reformas políticas já iniciadas.
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