Nas negociações
pré-delação, os executivos da empreiteira fizeram acusações contra
líderes de todos os grandes partidos governistas e da oposição. Pelo
menos 130 políticos, entre deputados, senadores, ministros e
ex-ministros deverão ser atingidos pelas delações. Segundo fontes
ligadas às negociações, entre os citados estão o presidente Michel Temer
(PMDB), os ministros José Serra (Relações Exteriores), Geddel Vieira
Lima (Secretaria de Governo) e Eliseu Padilha (Casa Civil).
Nas
delações também estariam os nomes do ex-presidente Lula, do senador
Aécio Neves (PSDB-MG), dos governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB); de Minas, Fernando Pimentel (PT); e do Rio, Luiz Fernando Pezão
(PMDB). Foram feitos relatos também sobre pagamentos supostamente
ilegais para as campanhas da ex-presidente Dilma Rousseff.
Sobraram
acusações, ainda, para os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega,
que estiveram à frente da Fazenda nos governos Dilma e Lula. Os
delatores também acrescentaram novas denúncias contra o deputado cassado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e contra o ex-governador do Rio Sérgio Cabral,
que já estão presos por conta de outras acusações na Lava-Jato.
Os
acordos são considerados devastadores pela importância dos políticos
atingidos e também pela riqueza de detalhes e provas dos crimes. Por
exigência do procurador-geral, Rodrigo Janot, e de outros
investigadores, os delatores tiveram que apresentar documentos para
comprovar as fraudes e a movimentação do dinheiro desviado dos contratos
com a Petrobras e outras áreas da administração.
Entre os
documentos que tornam mais impactantes as denúncias estão cópias de
e-mails em que executivos trataram das obras irregulares e dos
pagamentos de propina. As acusações são enriquecidas também com extratos
bancários e o vasto arquivo do Setor de Operações Estruturadas da
Odebrecht, uma área criada para facilitar o pagamento de propina a
pedido de diversos setores da empreiteira.
Os acordos de delação
estão associados ao de leniência da empreiteira. Por ele, a Odebrecht
deverá desembolsar mais de R$ 6 bilhões em multas. Parte dos recursos
deverão ser destinados aos Estados Unidos e à Suíça, também envolvidos
nas negociações da leniência. Pelo acordo, a empresa reconhece a prática
de atos ilegais e se compromete a corrigir os erros. Ontem(23), faltava
decidir quanto destes R$ 6 bilhões será enviado aos dois países.
Pelo
acordo de delação, Marcelo Odebrecht deverá ser punido com dez anos de
prisão, sendo dois anos e meio em regime fechado e o restante no
semiaberto com progressão para a prisão domiciliar. Como o empresário já
está na cadeia desde 19 de junho de 2015, ele deverá mudar de regime em
dezembro de 2017. Ele teria pleiteado passar o Natal com a família, mas
o pedido foi rejeitado pelos procuradores.
Os acordos preveem
prisão domiciliar para os delatores, inclusive para o pai de Marcelo,
Emílio Odebrecht. Vários delatores terão que usar tornozeleira
eletrônica. Advogados dos réus se reuniram ontem com procuradores em
Brasília e em Curitiba para começar a assinaturas dos acordos. Mas ainda
havia alguns detalhes que estavam sendo acertados. Ontem, para evitar
chamar a atenção, os advogados e delatores ficaram alojados em pelo
menos 12 hotéis de Brasília.
Segundo uma fonte, o processo deve
ser concluído hoje. A partir da assinatura dos acordos, os delatores
serão chamados para depor e apresentar detalhes das acusações que
prometeram fazer. Os investigados deverão ser ouvidos em Brasília,
Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, entre outros lugares.
Em
nota, a Odebrecht disse que não se manifestará sobre o caso, mas
reafirmou “seu compromisso com uma atuação ética, íntegra e
transparente, expressa por meio das medidas concretas já adotadas para
reforçar e ampliar o programa de conformidade nas empresas do grupo.
Entre as medidas estão a criação do cargo de Responsável por
Conformidade e do Comitê de Conformidade, ligados ao Conselho de
Administração para garantir total independência, e a adesão a pactos de
ética empresarial de entidades como ONU e Instituto Ethos.
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