O Nacional x Peñarol registrou um dos
episódios mais tristes de seus 116 anos de rivalidade. Após 511 jogos,
pela primeira vez o clássico precisou ser suspenso. Fruto da violência
que tomou as arquibancadas do Estádio Centenário, concentrada
principalmente na tribuna Amsterdã, onde os torcedores aurinegros se
reúnem. Por conta de saques, agressões e confrontos com a polícia, a
organização da partida preferiu que o pontapé inicial sequer fosse dado.
A
bomba começou a estourar durante a entrada dos barrabravas do Peñarol
no estádio. Funcionários que trabalhavam nas bilheterias do Centenário
foram agredidos por um grupo aurinegros, em setor que sofria com a falta
de policiamento. Apenas depois é que a segurança se reforçou,
deflagrando os embates nos portões do estádio. Em meio ao enfrentamento,
dezenas de garrafas foram atiradas contra os policiais e até mesmo um
botijão de gás - que acertou um cachorro policial. O caos permitiu que
os vândalos roubassem lanchonetes do Centenário.
Quando a situação
já tinha se acalmado no estádio, a poucos minutos antes do apito
inicial, 300 homens da tropa de choque chegaram às ruas vizinhas e a
tensão com os barrabravas do Peñarol se intensificou. Grupos foram
dispersados e novos confrontos aconteceram. Assim, decidiu-se pela
suspensão do clássico. Diante do cenário de guerra, os torcedores que já
ocupavam as arquibancadas, incluindo os do Nacional, saíram de maneira
coordenada pelos policiais, para evitar outros incidentes. Ao todo, 171
pessoas foram detidas, mas apenas uma ainda não foi liberada.
A
violência dos barrabravas do Peñarol não foi casual. A diretoria do
clube se recusou a entregar ingressos gratuitos aos grupos, algo sobre o
qual havia se comprometido com o Ministério do Interior. Descontentes
com a postura, os barras prometeram causar confusão antes e durante o
clássico como represália. Apesar de todo o contexto, a inteligência
policial não conseguiu realizar a prevenção no Centenário da melhor
maneira.
"Pode-se imaginar que esta foi uma das tardes mais
tristes para o futebol. O que está claro é que estão acontecendo coisas
perigosas que não poderiam acontecer, e faz tempo. Estamos chegando a um
limite", declarou Wilmar Valdez, presidente da federação
uruguaia. "Tudo isso se passa em um estádio de futebol, mas
evidentemente é um tema da sociedade. Como todos sabemos, há elementos
externos impedindo que se desfrute do futebol. Hoje foi claro, bastou
ver uma tribuna de família, como é a Olímpica, só com 500 ingressos
vendidos. É um sinal claro que a gente que quer ver futebol não vem por
coisas como as que se passaram hoje".
Ainda se discute qual será o
procedimento em relação ao clássico. O Nacional deseja ganhar os pontos
por causa dos incidentes cometidos pelos rivais, enquanto o Peñarol
prefere realizar o duelo sob portões fechados. Há rumores até sobre a
suspensão do campeonato. A federação, no entanto, reitera que pretende
terminar a competição antes de se voltar a medidas mais efetivas para
melhorar a segurança nos estádios. Como mostrou o episódio, elas são
urgentes.
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