quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

2018 será o ano de nos olharmos no espelho?

O presidente Michel Temer, foto Orlando Brito
Nenhuma mágica é possível se o público não estiver disposto a acreditar nela. 
Entre a intenção e o discurso, há doses cavalares de dissimulação e truques. 
Quanto à plateia… Bem, a plateia vaia ou aplaude. Mas não exatamente pela qualidade do truque e, sim, pelo tanto que quer acreditar ou duvidar dele.
Dilma Rousseff foi cassada não pelo crime que eventualmente cometeu ou deixou de cometer. Fosse assim, o Senado não teria inventado a manobra final que tirou o seu mandato mas preservou seus direitos políticos. Mas ela também não fazia o governo de esquerda que sua plateia adora enxergar. Seus aliados são agora aliados do atual governo. A condução econômica de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não era muito diferente da atual condução econômica. Aliás, Henrique Meirelles, o atual ministro da Fazenda e aquele que propõe as reformas que a plateia de Dilma critica era o nome preferido de Lula para ter conduzido então a economia (ele, que no governo Lula foi o presidente do Banco Central).
Senador Romero Jucá
Michel Temer obteve o apoio da classe empresarial para fazer as reformas que a sua base – que, aliás era basicamente a mesma de Dilma – resiste em implementar. No fundo, porque, para ela, mais importante que isso seja talvez a chance de, ao lado de Temer, conseguir dar um freio na onda punitiva vinda da associação entre Ministério Público, Polícia Federal e parte do Judiciário que vai indistintamente pondo na cadeia empresários e políticos de todos os matizes, criminalizando a forma como se deu no Brasil a relação entre financiados e financiados na política. O tal pacto a partir da retirada de Dilma e da assunção de Temer que o senador Romero Jucá revela na conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, num momento em que, graças à gravação clandestina, ele se permitiu a retirada da sua cartola de mágico.
Alvo da mesma onda punitiva, Luiz Inácio Lula da Silva segue incólume na liderança das pesquisas eleitorais, na busca de um terceiro mandato como presidente. Seguindo uma estratégia de campanha que tem como base central o confronto com as forças que, no discurso, o perseguem: elites, Ministério Público, Judiciário. Ele, que fez um governo de conciliação, a partir da Carta ao Povo Brasileiro. Que recentemente chegou mesmo a reclamar do comportamento agora da elite financeira, pelo tanto que ganhou em seus governos. Diante da liderança que segue inconteste de Lula, parte do empresariado e mesmo parte do PMDB de Temer já considera a hipótese de apoiar outra vez o candidato petista.
E Lula é líder nas pesquisas não porque seus eleitores desejem partir para um confronto com as elites. Mas porque desejam ficar mais próximos delas. Recordam-se dos ganhos e da ascensão social que tiveram nos governos do PT, e anseiam ter isso de volta.

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