Estadão - Eleito por unanimidade nesta quinta-feira, 23, presidente da Comissão
de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da
Câmara, o deputado federal Sérgio Souza (PMDB-PR) tem seu nome citado em
grampos da Operação Carne Fraca como tendo recebido “muito dinheiro” do
fiscal apontado como líder do esquema criminoso no Ministério da
Agricultura e preso pela PF, Daniel Gonçalves Filho. Na conversa, o
representante de uma cooperativa agrícola chega a afirmar ainda que o
parlamentar teria “rabo preso”.
O nome de Souza surgiu em um
diálogo de 11 de abril de 2016 entre o ex-superintendente regional do
Paraná e que estava lotado no Serviço de Vigilância Agropecuária no
Porto de Paranaguá (PR) até a deflagração da operação, Gil Bueno de
Magalhães, e um interlocutor identificado como Francisco e que
representa a Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR).
Em um determinado momento da conversa, Francisco pergunta a Gil sobre o deputado:
“Francisco:
Gil, aquele, aquele Sérgio Souza, pelo que me falaram, ele tá, ele tá a
favor do PT nessa história do impeachment, impeachment?
Gil: Hã
han. Tá ele recebe, ele recebeu muito dinheiro do suspenso aí (em
referência ao fiscal Daniel Filho, que na época havia sido suspenso
devido a um processo administrativo no Ministério da Agricultura)
Francisco: Ah…ah, ele tá com o rabo preso
Gil: É (ininteligível) com ele é, entende?
Francisco: Humm
Gil: Então eu não sei o que ele vai
Francisco: Tá louco, quem escapa hoje em dia não?
Gil: É, é complicado, tá? Francisco: É”
O diálogo ocorreu na véspera da votação na Câmara sobre a
continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff
(PT). Na ocasião, o governo tentava conseguir os votos do PMDB, que foi
eleito na chapa de Dilma e seu vice Michel Temer (PMDB) em 2014, mas
acabou abandonando o governo na reta final do processo de afastamento da
petista. No dia 17 de abril daquele ano, a Câmara aprovou, por
unanimidade, a continuidade do processo de impeachment, que seguiu para o
Senado.
Apesar das menções aos parlamentares, a PF não
identificou suspeitas de crimes envolvendo os políticos com foro
privilegiado. Desde novembro, a Procuradoria da República no Paraná
compartilhou com o procurador-geral da República Rodrigo Janot os
resultados dos grampos.
Briga. Não é a primeira
vez que o nome do deputado, que agora vai presidir a comissão
responsável por discutir a política agrícola do País, é citado como
relacionado ao fiscal preso na Operação Carne Fraca. Na terça-feira, 21,
a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) afirmou da tribuna do Senado que foi
pressionada no ano passado por Sérgio Souza e Serraglio para manter
Daniel Gonçalves no cargo. Até o impeachment, a senadora era ministra da
Agricultura no governo Dilma.
A versão vai de encontro aos
diálogos interceptados pela PF na Carne Fraga. Em um deles, por exemplo,
a chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, Maria do
Rocio afirma ao funcionário da Seara Flávio Cassou que Souza havia
prometido “segurar, segurar, segurar”, Daniel no cargo.
O diálogo
ocorreu em 12 de abril de 2016, quando Flávio informou Maria sobre o
afastamento de Daniel na época devido a um processo administrativo no
Ministério.
“Flavio: Isso, é que agora ontem suspenderam e hoje exoneraram
Maria: Tá brincando
Flávio:
Foi ele, foi Tocantins, foi São Paulo. PMDB FOI TUDO. Dai eu queria
saber com o deputado pra ver se precisa dar um toque, dar uma mexida,
mexer na empresa, mas ele não me atende o desgraçado
Maria: Tá brincando”.
Deflagrada
na sexta-feira, 17, a Carne Fraca levou ao afastamento de 33 servidores
da Agricultura após identificar que haveria um esquema de corrupção nas
regionais do Ministério da Agricultura nos Estados do Paraná, Minas
Gerais e Goiás.
Na lista de irregularidades identificadas pela PF
estão o pagamento de propinas a fiscais federais agropecuários e
agentes de inspeção para comercialização de certificados sanitários e
aproveitamento de carne estragada para produção de gêneros alimentícios.
Os pagamentos indevidos teriam o objetivo de atender aos interesses de
empresas fiscalizadas para evitar a efetiva e adequada fiscalização das
atividades, segundo a investigação.
Ronaldo Troncha, que
trabalhou com o peemedebista entre abril de 2015 e outubro de 2016,
também aparece na investigação da Carne Fraca e teria proximidade com
Daniel Gonçalves Filho. Ronaldo teria recebido duas transferências de R$
10 mil entre 2009 e 2011. O fiscal agropecuário nega que tenha cometido
qualquer irregularidade.
Atualmente, Daniel Filho, Maria do
Rócio e Gil, que aparecem nos grampos, estão presos. A reportagem entrou
em contato e mostrou os grampos para assessoria de Souza ontem, mas o
parlamentar ainda não se posicionou oficialmente sobre o caso.
COM A PALAVRA, A ASSESSORIA DO PMDB:
O PMDB não autoriza ninguém a falar em nome do partido e está à disposição da justiça para qualquer esclarecimento.
COM A PALAVRA, A JBS:
“A JBS não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará todas as medidas cabíveis.”
COM A PALAVRA, A CASTROLANDA:
“A
Castrolanda tem entre seus principais valores a transparência e o
diálogo divulgado entre o investigado e o representante da cooperativa é
de caráter informativo da mudança na superintendência do MAPA. ”
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