Deflagrada nesta sexta-feira pela Polícia Federal, a Operação Carne Fraca
se deparou com uma série de irregularidades praticadas por frigoríficos
no país, desde os empreendimentos de pequeno porte às gigantes do
setor BRF e JBS.
A investigação,
baseada sobretudo em grampos da PF, identificou carnes com salmonela,
podres e vencidas, o uso de ácido ascórbico, uma substância cancerígena,
para “maquiar” produtos, além do uso de carne de cabeça de porco na
produção de linguiças e até o suposto uso de papelão para reforçar a
mistura transformada em salsicha.
Veja abaixo os maiores absurdos encontrados na operação:
Carne com salmonela
A
investigação da Carne Fraca grampeou debates entre o agente de inspeção
federal Carlos Cesar e o auxiliar operacional em agropecuária Carlos
Augusto Goetzke, conhecido como Carlão, em que eles ponderam sobre o
destino de uma carga de 18 toneladas de carne de peru infectada com
salmonela, do frigorífico Souza Ramos: fabricar mortadela ou ração?
“Chega
a causar náuseas a naturalidade com a qual ambos tratam a destinação a
ser dada para a carne podre, com salmonela e altamente imprópria para
consumo – colocar no digestor ou fazer mortadela”, afirmam os
investigadores.
Diálogos interceptados pela PF também mostram um
diretor da BRF, André Baldissera, conversando com um interlocutor
identificado como Fabrício sobre a retenção de contêineres na Itália.
Com base nos áudios, a investigação concluiu que as autoridades
sanitárias da Europa haviam identificado no carregamento “traços de uma
das variações da bactéria salmonela” e, por isso, havia vetado a entrada
dos alimentos.
Carne podre e vencida
Em
uma conversa interceptada pela Polícia Federal entre Idair Piccin e
Normélio Peccin, dois dos sócios do frigorífico Peccin, os empresários
demonstram estar impressionados com a resiliência de uma peça de
presunto podre, que quase não aparenta a condição. “Não tem cheiro de
azedo”, garante um deles:
Normélio: Tu viu aquele presunto que subiu ali ou não chegou a ver?
Idair: Ah, eu não vi. Cheguei lá, mas o Ney falou que tá mais ou menos . Não tá tão ruim.
Normélio:
Não. Não tá. Fizemos um processo, até agora eu não entendo, cara, o que
é que deu naquilo ali. Pra usar ele, pode usar sossegado. Não tem
cheiro de azedo. Nada, nada, nada.
Conforme a apuração da
Polícia Federal, até mesmo Daniel Gonçalves Filho e Maria do Rocio, os
dois líderes do esquema no Paraná, ficavam preocupados com o
funcionamento o frigorífico Larissa, do empresário Paulo Sposito,
tamanha era a “ausência de qualidade” em sua produção.
Em um
diálogo com um funcionário, Sposito não se mostra surpreso com a
substituição de etiquetas de validade em um carga de carnes de barriga
ou com a utilização de carnes vencidas há três meses para a produção de
outros alimentos. “Se é que se pode chamar de alimento algo composto por
restos não mais aptos ao consumo humano”, observa a PF.
Ácido ascórbico como ‘maquiagem’
O
frigorífico Peccin, que teve duas unidades interditadas pela
investigação, uma em Curitiba e outra em Jaraguá do Sul, tinha um
ingrediente secreto em seus produtos. Segundo a ex-auxiliar de inspeção
Daiane Marcela Maciel, a empresa promovia “maquiagem de carnes
estragadas com a substância cancerígena ácido ascórbico”, truque
empregado na produção de salsichas e linguiças, além de usar quantidades
de carne muito menores que o indicado em seus produtos e
complementá-los com outras substâncias.
O Peccin também mantinha carnes sem rótulos ou refrigeração e falsificava notas de compra do produto.
Cabeça de porco na linguiça
Uma
das interceptações telefônicas da operação flagrou Idair Piccin e sua
mulher, Nair, combinando a compra de 2.000 quilos de carne de cabeça de
porco para a fabricação de linguiças, prática que é proibida.
Piccin
até chega a ponderar a respeito da proibição, mas a mulher diz que
conseguiu negociar as duas toneladas da carne por um bom preço e que o
marido deveria utilizá-la para “fechar uma carga”.
“É, pega , nós
vamos fazer o quê? Só que na verdade usar no que? Vai ter que enfiar um
pouco em linguiça ali”, concorda o empresário, preso nesta sexta-feira,
assim como sua mulher.
Papelão na mistura
A
investigação também grampeou uma conversa em que dois funcionários da
BRF supostamente conversam sobre a suposta inclusão de papelão em carnes
utilizadas para processar salsichas, conhecida como CMS.
Funcionário:
O problema é colocar papelão lá dentro do cms também né. Tem mais essa
ainda. Eu vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora se eu não
consegui em papelão, daí infelizmente eu vou ter que condenar.
Funcionário 2: Ai tu pesa tudo que nós vamos dar perda. Não vamos pagar rendimentos isso.
Segundo a empresa, no entanto, os homens discutiam a embalagem do produto, e não sua composição.
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