BRASÍLIA - Pressionado por lideranças políticas e surpreendendo a
todos com um pronunciamento chamado às pressas no início desta noite, o
presidente Michel Temer anunciou que a proposta de reforma da
Previdência não vai mais incluir a revisão das regras para servidores
estaduais e municipais. É o primeiro recuo oficial do governo na
proposta da reforma previdenciária.
O presidente disse que tomou a
decisão após várias reuniões com lideranças da Câmara e do Senado nos
últimos dias. Nesses encontros, segundo ele, "surgiu com grande força" a
ideia de que a União deveria respeitar a autonomia dos Estados e
municípios, fortalecer o "princípio federativo" e fazer com que a
reforma atingisse apenas servidores federais.
"Vários Estados já
providenciaram sua reformulação previdenciária. Seria uma relativa
invasão de competência e não queremos neste momento levar adiante",
disse, citando como exemplo categorias de policiais civis e professores.
"Funcionários estaduais e municipais, de forma geral, dependerão da
manifestação de seus governos estaduais e municipais", disse Temer.
Temer
reiterou que a aprovação da reforma da previdência é fundamental para o
desenvolvimento econômico do País, adequação das contas públicas e
geração de novos empregos.
"Estou passando para o relator (Artur
Maia-PPS-BA) e para o presidente da comissão (Carlos Marun-PMDB-MS), que
logo amanhã transmitirão que, a partir de agora, trabalham com a
previdência apenas para servidores federais", afirmou. "Desde os
primeiros momentos da nossa posse, dissemos que queríamos respeitar o
princípio federativo. Reitero essa intenção."
Temer ressaltou que
tomou a decisão em razão de "peculiaridades locais", e disse que os
Estados e municípios farão a reforma "se for necessário". "Se não, não
se submeterão a isso", afirmou.
Os servidores públicos fazem parte
do grupo mais articulado no Congresso no lobby contra a reforma da
Previdência. A decisão do presidente pode abrir novos precedentes de
mudanças, já que várias categorias de servidores federais também pedem
para ficar de fora da Proposta de Emenda à Constituição (PEC), entre
eles juízes e procuradores do Ministério Público.
O anúncio foi
feito sem a presença dos ministros da área econômica, Henrique Meirelles
(Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento), e da Casa Civil, Eliseu
Padilha, que coordenaram a equipe responsável pela elaboração da
proposta.
Mas durante o comunicado, Temer estava cercado por
lideranças políticas, entre elas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e os ministros da
Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, e de Secretaria de
Governo, Amtonio Imbassahy, além do presidente e do relator da comissão
da reforma da Previdência na Câmara.
Meirelles esteve reunido com
Temer antes do anúncio. Temer fez apenas um pronunciamento e não
respondeu a perguntas, nem mesmo se a medida representava uma derrota da
equipe econômica.
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