A ex-presidente Dilma Rousseff nunca deu ouvidos
para aquilo que o filósofo espanhol José Ortega y Gasset chamava de
fundo insubornável do ser. Ou seja, o mais íntimo pensamento naquela
hora em que o indivíduo encara o seu reflexo no espelho e tenta
reconhecer a própria face. Para alcançar o poder e nele se manter a todo
custo, repetindo uma prática de seu antecessor, Dilma sustentou uma
imagem que nunca lhe pertenceu: a de uma mandatária pudica e
incorruptível. Mesmo depois do impeachment, ela insistia em se
apresentar, em andanças pelo País e palestras além-mar, como uma espécie
de vestal desprovida de mácula, vítima das circunstâncias.
Não é possível mais manter a retórica de pé. ISTOÉ teve acesso às 820
páginas que compõem o processo de colaboração premiada dos marqueteiros
João Santana e de sua mulher, Mônica Moura. Os documentos anexados como
provas vão além da delação – e a liquidam de vez. Desmontam a tese,
alardeada nos últimos dias por Dilma, de que aquele que atuou durante
anos como o seu principal conselheiro político, bem como sua esposa,
mentiram à Justiça em troca da liberdade.
A militância costuma preferir narrativas a provas, para dourá-las ao
sabor de suas conveniências. Não é o caso aqui. Reportagem de ISTOÉ tira
o véu da “ex-presidenta inocenta”. A papelada comprova que Dilma
incorreu em toda sorte de crimes ao ter: 1. Despesas pessoais pagas com
dinheiro de corrupção desviado da Petrobras, mesmo quando não estava em
campanha; 2. Atuado dentro do Palácio da Alvorada no sentido de tentar
obstruir a Justiça; 3.
Orientado a ocultação de recursos ilícitos no exterior e 4.
Determinado a transferência de dinheiro sabidamente ilegal para os
cofres de sua campanha, por meio de integrantes do primeiro escalão do
governo. Em suma, os documentos atestam que a ex-presidente da
República, durante o exercício do cargo, participou ativa, direta e
pessoalmente do esquema do Petrolão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário