© Vagner Rosário
O juiz federal Sérgio Moro, da 3ª Vara Criminal
de Curitiba (PR), durante o XII Simpósio Brasileiro de Direito
Constitucional - 26/05/2016
O juiz federal Sergio Moro
classificou como "inaceitável" que políticos suspeitos de terem
praticado crimes permaneçam na vida pública "sem consequências" e disse
que os indícios reunidos contra o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira,
alvo de prisão preventiva na 31ª fase da Operação Lava Jato, apontam que
ele seria o destinatário de milhões de reais em propina desviados de
disputas no Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). No despacho em
que determinou a prisão preventiva de Ferreira, atualmente já preso em
outro escândalo de corrupção, o deflagrado pela Operação Custo Brasil,
Moro afirmou que o petista, embora sem mandato parlamentar, ainda mantem
influência política, disse que mantê-lo em liberdade é um "risco" e
ainda decretou o bloqueio de bens do ex-dirigente do PT até o limite de 5
milhões de reais.
"Inaceitável
que agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de
envolvimento em crimes contra a Administração Pública e lavagem de
dinheiro permaneçam na vida pública sem consequências", resumiu o juiz
ao acatar pedido do Ministério Público para que uma nova prisão fosse
decretada contra Paulo Ferreira.
Ao
justificar a prisão do petista, Moro destacou a vida partidária de
Ferreira, seu mandato como deputado federal entre 2012 e 2014 e disse
que ele é hoje suplente, o que poderia, a qualquer momento, levá-lo de
volta a ocupar um cargo político. "Mesmo atualmente sem mandato, não se
pode dizer que não tem mais influência ou poder político, considerando
sua permanência nas estruturas partidárias e seu histórico político
desde 1982, bem como a relevância dos cargos que já exerceu, incluindo o
de Secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores. Mais do que
isso, apesar de não ter sido reeleito para a legislatura iniciada em
2015, obteve a posição de suplente, havendo risco para a sociedade de
que circunstancialmente volte a exercer o mandato de parlamentar
federal", explicou Moro.
Em
duro despacho, o juiz defendeu ainda uma "reação institucional" contra a
possibilidade de criminosos se locupletarem de instituições públicas e
disse que, na ausência de iniciativa de instituições políticas ou
partidárias, cabe ao Poder Judiciário "poupar" a sociedade de conviver
com criminosos. "Como dinheiro é poder e o domínio político é
competitivo, políticos desonestos, por terem condições de contar com
recursos criminosos, possuem uma vantagem comparativa em relação aos
probos. Se não houver reação institucional, há risco concreto do
progressivo predomínio dos criminosos nas instituições públicas, com o
comprometimento do próprio sistema democrático", disse.
"Necessária
infelizmente a intervenção do Poder Judiciário para poupar a sociedade
do risco oferecido pela perpetuação na vida pública do agente político
criminoso, máxime quando há possibilidade de que este volte,
circunstancialmente, a assumir mandato parlamentar. Nada pior para a
democracia do que um político desonesto", completou Sergio Moro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário