BRASÍLIA - Por 4 votos a 1, a Segunda Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu nesta terça-feira, 21, que as menções ao
ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) feitas pelo ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado em delação premiada devem ficar na Suprema
Corte, não devendo ser compartilhadas com o juiz federal Sérgio Moro.
Foi
a primeira vez que o ministro Edson Fachin foi voto vencido em
processos da Lava Jato desde desde que assumiu a relatoria dos casos
relacionados à investigação.
Em seu acordo de colaboração
premiada, Machado afirmou que, durante o período em que comandou a
Transpetro, foram repassados à cúpula do PMDB pouco mais de R$ 100
milhões de propina paga por empresas contratadas — do total, R$ 18,5
milhões teriam ido para Sarney, sendo R$ 2,25 milhões em doações
oficiais entre 2010 e 2012 (R$ 1,25 milhão da Camargo Corrêa e R$ 1
milhão da Queiroz Galvão).
“Compartilhar informações não significa desmembrar (as investigações) ou atribuir competência”, disse Fachin, ao votar favoravelmente à troca de dados com a primeira instância.
Os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Celso de Mello, no entanto, votaram em sentido contrário.
Para
Celso de Mello, a remessa de cópias a Moro poderia permitir que o juiz
federal iniciasse investigações penais sobre os mesmos fatos que já
estão sendo investigados sob supervisão do STF.
“No fundo, a
determinação de compartilhamento de tais subsídios informativos, com
respectivo encaminhamento a um outro órgão judiciário situado no
primeiro grau de jurisdição, a mim me parece que se mostra um
comportamento ainda prematuro em termos de investigação criminal”,
observou Celso de Mello.
Lewandowski concordou com Mello. “Nesse
primeiro momento, é possível que possa haver prejuízo para as
investigações o desenvolvimento de distintos inquéritos em várias
instâncias. Nesse momento, nós temos vários senadores (sob investigação) e o agravante implicado (Sarney) em uma mesma delação, e é de todo conveniente pelo menos por ora que se mantenha essa questão no STF”, disse Lewandowski.
“Quanto
ao compartilhamento, entendo que esse só se dá quando já houver uma
ação penal aberta contra uma determinada pessoa. Compartilhamento de
dados em abstrato para que algum juízo possa eventualmente encontrar
algo de ilícito e assim oficiar o Ministério Público, isso a meu ver não
se mostra possível”, completou Lewandowski.
O ministro Gilmar
Mendes também aderiu à divergência, ao entender que o “mais adequado”
seria a manutenção das investigações contra Sarney no STF, por estarem
relacionadas a fatos que envolvem outros membros do PMDB, como os
senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), ambos com
foro privilegiado.
"A cisão subjetiva me parece incompatível com
os rumos que os procedimentos tomaram, redundando na instauração de
procedimentos paralelos", ponderou Gilmar Mendes. "O mais adequado me
parece a manutenção das investigações contra o agravante (Sarney) nessa Corte", concluiu Mendes.
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