As acirradas discussões sobre a
crise política ganharão um novo elemento nesta semana. Está marcado para
quarta-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), o julgamento de uma
ação que questiona se é possível migrar do sistema presidencialista para
o parlamentarismo por meio de emenda à Constituição. A ação chegou ao
tribunal em 1997, proposta pelo então deputado Jaques Wagner, que hoje é
chefe de gabinete da Presidência da República.
Depois
de 19 anos, o tema deve ser finalmente enfrentado pelo plenário da mais
alta corte do país. Nos bastidores, ministros do STF comentam que a
discussão sobre o parlamentarismo pode ajudar o Congresso Nacional a
encontrar uma solução para a crise política do país.
Quando
chegou ao STF, em 1997, a ação foi sorteada para a relatoria do
ministro Néri da Silveira. No mesmo ano, ele negou a liminar. Em 2002,
quando Silveira se aposentou, a relatoria passou para as mãos de Ilmar
Galvão, que também já deixou a Corte. Em 2003, Carlos Ayres Britto
recebeu o processo, que ficou parado, sem qualquer tramitação, até 2012,
quando ele se aposentou. A relatoria foi novamente transferida, desta
vez para o ministro Teori Zavascki, que atualmente conduz o caso. Ao
longo das duas últimas décadas, o caso chegou a ser pautado várias vezes
para julgamento, mas a burocracia do trâmite judicial provocou os
adiamentos.
ALTERNATIVA PARA A CRISE
Quando
a ação chegou ao STF, o Congresso Nacional discutia a emenda do
parlamentarismo. Wagner entrou com a ação no STF para tentar impedir o
debate, alegando que o sistema de governo só poderia ser mudado por meio
de plebiscito. O petista não conseguiu a liminar, mas o Congresso nunca
avançou nas discussões. Recentemente, a mudança de sistema de governo
chegou a ser aventada por parlamentares como alternativa para a atual
crise política. No entanto, a oposição no Senado conseguiu convencer o
presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), a adiar a ideia, para
evitar a acusação de oportunista.
Em
manifestação enviada ao STF na semana passada, o Senado defendeu que o
tema possa ser discutido no Congresso. O documento, que foi encaminhado
por Renan Calheiros, tece elogios ao parlamentarismo.
“Não
é que o parlamentarismo suprime a separação ou a independência entre os
poderes. O que ocorre é que otimiza outro princípio igualmente
importante que é o da harmonia entre Legislativo, Executivo e
Judiciário”, diz o parecer, assinado pelo advogado-geral do Senado,
Alberto Cascais.
“O sistema
parlamentarista não é incompatível com o princípio republicano, nem o
princípio da separação de poderes, como asseveram os impetrantes. Fosse o
caso o Constituinte originário não o teria lançado como legítima opção
ao presidencialismo. Ou seja, decorre da Constituição que o debate de
eventual adoção do parlamentarismo é absolutamente compatível com o que
ela tem de essencial”, complementa o texto.
O
parecer também tece críticas ao presidencialismo, atentando para os
“efeitos deletérios à separação dos poderes e às liberdades públicas”
das medidas provisórias. “O instituto (das medidas provisórias),
importado da Itália, república parlamentarista, contribui decisivamente
pela posição hegemônica do presidente em relação ao Congresso Nacional
no Brasil, de forma a perpetuar nosso presidencialismo imperial”, diz o
texto.
Segundo a ação
proposta por Jaques Wagner, o Congresso não poderia analisar uma PEC
sobre o tema, porque a Constituição estabelece a consulta popular para
definição do sistema de governo. Em 1993, o parlamentarismo foi
rejeitado nas urnas em um plebiscito. Mas a defesa do Senado afirma que o
sistema presidencialista não está entre as cláusulas pétreas da
Constituição — ou seja, aquelas que não podem ser modificadas. Portanto,
a discussão poderia ser feita por meio de emenda constitucional no
Congresso.
“Não há óbice
constitucional para o debate da matéria, tendo em vista que o sistema
presidencialista não integra o núcleo duro da Constituição da
República”, diz o Senado. “O que não se admite, por imperativo do
princípio democrático e do princípio do pluralismo, é que se abortem
debates em torno dessas questões, como pretendem”, conclui o parecer. A
posição do Senado poderá ser levada em consideração pelos ministros no
julgamento de quarta-feira.
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