segunda-feira, 25 de abril de 2016

APÓS POLEMICAS, PSOL EXPULSOU CABO DACIOLO

Parlamentar contrariou estatuto da legenda ao fazer declarações e protocolar projetos de cunho religioso
Gustavo Lima - Câmara dos Deputados
Cabo Daciolo
A gota d’água teria sido a defesa que o parlamentar fez de militares envolvidos na morte do pedreiro Amarildo, desaparecido desde 2013
O Diretório Nacional do PSOL decidiu, neste sábado 16, expulsar o deputado federal Cabo Daciolo (RJ) do partido, por 54 votos a um. A decisão saiu dois meses depois do parlamentar ser suspenso por decisão da Executiva Nacional, quando teve oportunidade de fazer sua defesa. O motivo foi infidelidade partidária, já que o deputado contrariou o programa e o estatuto do partido tanto em declarações polêmicas como na atividade parlamentar. A legenda não divulgou, no entanto, se irá reivindicar o mandato na Justiça.
 O processo de expulsão começou depois que o militar apresentou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição), apelidada por ele de "PEC dos Apóstolos", que sugere alterar um parágrafo na Carta Magna: em vez de determinar que “todo o poder emana do povo”, como é atualmente, estabeleceria que “todo o poder emana de Deus”. O que fere a concepção do PSOL na defesa do Estado laico. Mas o ápice foi o discurso do deputado, no Plenário, em defesa dos PMs  que estariam envolvidos com o sumiço, tortura e morte do pedreiro Amarildo de Souza, em 2013.
De acordo com o parecer da comissão de ética, a posição do deputado Cabo Daciolo de defender os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) "vai na contramão do engajamento de militância do partido na campanha Cadê Amarildo? e na luta contra a criminalização dos moradores das periferias". Com a expulsão do Cabo Daciolo, a bancada do PSOL na Câmara passa dos atuais cinco para quatro deputados federais.
Cabo Daciolo foi eleito, pela primeira vez, em CLIC EM Mais Informações> E LEIA

2014, quando iniciou sua carreira política. Ele foi convidado para se filiar ao partido porque havia liderado a greve dos bombeiros no Rio de Janeiro, em 2011. Na ocasião, ele comandou a invasão do Quartel General da corporação e o acampamento nas escadarias da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). O partido, no entanto, parece não ter percebido que o militar não era tão progressista como dizia.
Antes mesmo de assumir o mandato, Cabo Daciolo já havia criado constrangimento ao partido. Na época da diplomação dos deputados eleitos, ainda no ano passado, ele ‘tietou’ o deputado Jair Bolsonaro e seu filho depois da cerimônia e posou para uma foto com os dois. Depois, divulgou um vídeo na sua página em que dava a entender que Brasil vive “falsa democracia” e pedia a nomeação de um general para o Ministério da Defesa.
Após a expulsão, Daciolo divulgou um texto em sua rede social, no qual acusa o PSOL de desrespeitar sua liberdade e religiosa e persegui-lo.  “Fui discriminado. Mesmo assim, eu os perdoo. Não levo mágoas comigo”. Leia o texto na íntegra:

“TODO O PODER EMANA DE DEUS!
Não recebi com alegria a notícia de minha expulsão pelo Diretório Nacional do PSOL. Fui eleito com 49.831 votos, numa campanha desacreditada pela maioria dos militantes psolistas. Não tive tempo de TV e os recursos financeiros foram escassos. Mesmo assim, diante da especulação negativa de que seria derrotado nas ruas, Deus, o Todo-poderoso, honrou a nossa fé e o empenho voluntário, aguerrido, das pessoas que acreditaram genuinamente em nossa proposta.
O meu desejo é permanecer no PSOL. Sempre foi. Quando fui suspenso, apresentei minha defesa, sem abrir mão dos pontos que defendo, mas expressando a minha sincera vontade de continuar filiado. Hoje não é um dia para se comemorar. Todavia, a minha confiança está no Senhor e nos seus desígnios. A vontade de Deus é boa, agradável e perfeita (Rm 12.2). A Bíblia, o meu único manual de fé e prática, diz que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus. Nunca me envergonharei em declarar que Deus vem em primeiro lugar na minha vida. Todo o poder emana de Deus.
O PSOL me perseguiu, desrespeitou a minha liberdade religiosa e não permitiu que eu pudesse discutir as minhas propostas junto ao partido. Fui discriminado. Mesmo assim, eu os perdoo. Não levo mágoas comigo. Jesus me ensinou a perdoar. Para encerrar, quero reiterar que em qualquer partido político irei honrar a minha fé e defender os militares. Militar também é cidadão.
Sigo em frente, de cabeça erguida, sabendo que Deus está no controle. O trabalho não vai parar. Vamos honrar cada voto. Juntos somos mais fortes.
Abraços fraternos,
Cabo Daciolo
Deputado Federal”
*Com informações da Agência Brasil

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