segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Se julgo, sou juiz: Transtorno do Processamento Sensorial: Não obrigue

julga-min
Eu sei que já existe um texto semelhante que diz quase o mesmo que vou dizer agora. Mas, peço licença. Eu preciso repetir a mensagem do meu jeito. Porque é algo que incomoda e faz sofrer.
Como a banana.
Quando você encontra uma pessoa que é alérgica a camarão, por exemplo, você não obriga essa pessoa a comer camarão, certo?
Certo.
Os rótulos das comidas hoje em dia vêm repletos de avisos quanto ao glúten, à lactose, ao transgênico, à quantidade de calorias, à gordura trans.
E se você recebe na sua casa uma pessoa que é intolerante à lactose ou alérgica ao pão de trigo, você não vai oferecer nada disso, ok?
Okay.
Quando alguém da sua família tem asma, geralmente o que se faz? Tira os ursos de pelúcia do quarto. Substitui tapetes. Evita cobertas peludas. Evita situações que façam levantar poeira. Repele ácaros e bactérias do ambiente. Ninguém vai querer ver uma pessoa passando por uma crise horrível de asma.
Se o seu avô tem diabetes, você obviamente não vai comprar um bolo de chocolate para tomar um café da tarde com ele. Né?
Pois então.
Pergunto: por que meu filho tem obrigação de suportar cheiros os quais não suporta? Barulhos os quais não aguenta? Lugares aos quais tem aversão?
É assim que as pessoas tratam um autista.
As pessoas acham que se eu não forçar meu filho a enfrentar multidões, ele não vai conseguir “vencer na vida”. Que se eu não obrigar meu filho a entrar na cozinha, ele nunca vai vencer sua hipersensibilidade olfativa. Que se eu não fizer com que meu filho sente-se à mesa como qualquer pessoa e encare um prato de comidas encostadas (sim, grande parte dos autistas têm aversão a comidas que estejam encostadas umas nas outras), ele não vai superar suas dificuldades.
Porque meu filho é………… fresco. Manhoso. Mimado. Mal educado.
“Ele está abusando”, disse uma profissional que deveria estar ali para ampará-lo e não para julgá-lo.
Mas, infelizmente, é o que acontece na maioria dos casos: julgam.
Porque, ao invés de ficar com o corpo todo empipocado, o que ele sente é dor e mal estar. Como provar para alguém que, por causa de um cheiro, você está com uma dor de cabeça terrível? Náusea? Tontura? E, pela dificuldade em explicar tudo o que acontece ao mesmo tempo no seu cérebro, muitas vezes ele chora. E é proibido que um garoto de 13 anos chore.
Meu filho não consegue entrar em um lugar onde tenha uma banana.
Uma banana ativa áreas do seu cérebro completamente diferentes do que ativaria em uma pessoa comum. Uma pessoa comum poderia sentir fome, desejo, poderia até salivar, de acordo com a relação que tem com a fruta.
No caso do meu filho, ele sente um nojo profundo. Seu cérebro aciona “alarmes” de perigo, nojento, tóxico, não se aproxime! E ele tem as reações típicas de alguém que vê, por exemplo, um prato de uma comida podre, cheia de larvas: faz ânsia, vomita. E como está cansado de ser repreendido por isso, sempre que acontece, acaba entrando em desespero. Sente-se culpado. E vem o peso do julgamento e do autojulgamento: como posso ser capaz de sentir isso por uma comida?
Mas ele não tem controle. Não faz porque quer, mas porque seu cérebro funciona assim, mesmo que digam que está errado. Assim como faz o pâncreas no caso de um diabético.
Grande parte dos autistas – e mesmo uma boa quantidade de pessoas sem diagnóstico algum – tem o que é chamado de transtorno do processamento sensorial (TPS). Seu cérebro recebe e responde a estímulos de uma forma inesperada. É como se os neurônios entendessem azul quando se diz vermelho.
Então, por favor, quando você perceber que uma pessoa com autismo tem essas dificuldades sensoriais, fica apenas uma dica: NÃO OBRIGUE.
Obrigada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário