Governo planeja seguro-desemprego automático
Estadão - Cinco dias depois de 60 presos – a maioria do Primeiro Comando
da Capital (PCC) – terem sido assassinados em cadeias do Amazonas por
bandidos da Família do Norte (FDN), a facção paulista iniciou sua
vingança e matou 31 detentos nesta sexta-feira, 6, na Penitenciária
Agrícola de Monte Cristo (PAMC), em Boa Vista, Roraima. O massacre
começou às 2h30 (hora local).
Segundo a administração da prisão,
os detentos quebraram os cadeados das celas e invadiram a Ala 5, a
cozinha e o cadeião – onde estavam os presos de menor periculosidade – e
mataram os desafetos. A maioria das vítimas foi esquartejada,
decapitada ou teve o coração arrancado, método usado pelo PCC em
conflitos entre facções. Os corpos foram jogados em um corredor que dá
acesso às alas. Não houve fugas.
Os assassinos filmaram as
execuções e distribuíram o vídeo pelo WhatsApp. Deixaram claro que se
tratava de uma vingança pelo massacre de Manaus. “Olha aqui o que nós
‘faz’ aqui com você, seu safado. Vocês (bandidos da FDN) mataram os
nossos irmãozinhos”, disse um criminoso enquanto ele e seus colegas
chutam os corpos.
“Aí o que vai acontecer com vocês. Aqui também
tem criminoso.” Enquanto uma vítima é decapitada, um preso faz ameaças.
“Essa aí é a resposta. Esse é FDN”, diz o detento, que atira a cabeça da
vítima no chão. “A gente vai fechar teu olho.” E o preso dá risada
enquanto espeta uma faca o olho da vítima. Com o sangue, eles escreveram
no chão: “Aqui é o PCC”.
Para a desembargadora do Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJ-SP) Ivana David, especialista em crime
organizado, as rebeliões demonstram que os presos desafiam o Estado
adotando comportamento que ultrapassa a selvageria. “Nesses vídeos,
percebe-se que os detentos não estão preocupados com eventuais
retaliações por parte do Estado. Pelo contrário, mostram que não têm
medo da lei nem de quem as aplica.”
“É uma cena que choca pela
brutalidade, pela violência, pela selvageria”, afirmou o deputado
federal e médico-legista aposentado Hiran Gonçalves (PP-RR), que esteve
no presídio. “Saí de lá agora e ainda havia 20 cadáveres para serem
removidos. Um dos problemas é o fato de a equipe de necropsia ter de
montar os cadáveres”, disse.
Parentes
Pela
manhã, as imagens das mortes foram parar no celular da auxiliar de
limpeza Silvana Santos, de 44 anos. Sem pensar duas vezes, saiu correndo
para o presídio, dando início a um calvário de incerteza e medo. É lá
onde estão presos o irmão e dois primos dela. “É muita aflição, a gente
fica sem saber se morreu ou não.”
Silvana chegou às 6 horas à
penitenciária, onde familiares de presos já aguardavam por informações
sobre parentes. Do lado de fora, ouvia o que acontecia na unidade. “Era
muito barulho de bomba. Tudo quanto era polícia estava lá dentro.” A
auxiliar de limpeza disse estar convencida de que um primo é um dos 31
mortos no massacre. “Tenho certeza que ele já foi. Era da Ala 5 e, pelo
que disseram, não sobrou ninguém de lá.”
Segundo o delegado-geral
em exercício de Roraima, Marcos Lázaro, os presos mortos no PAMC haviam
rompido com o PCC e queriam criar uma facção criminosa local. Ele
afirmou que nem todas as vítimas eram ligadas ao crime organizado –
entre os mortos também havia acusados de estupro. O grupo planejava
fundar a nova facção estaria insatisfeito, segundo Lázaro, com “a
remessa de valores obtidos com as ações criminosas para outros Estados,
bem como o descontentamento com a suposta falta de ‘apoio’ do grupo”.
Com
1.475 detentos, a unidade é reduto do PCC, que está em guerra contra
membros da facção carioca Comando Vermelho (CV) e seus aliados da FDN.
Roraima tem 2.621 presos – 900 dos quais pertenceriam a facções, a
maioria do PCC. Por segurança, o governo de Roraima transferira presos
do CV para a Cadeia Pública de Boa Vista em outubro de 2016, após o PCC
matar dez integrantes do CV.
Ministro
Em
Brasília, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, negou que o
sistema prisional brasileiro viva uma guerra entre facções rivais e que a
situação tenha saído do controle. Ele afirmou que o massacre de Boa
Vista não se tratou, “aparentemente”, de uma retaliação à FDN. Para o
ministro, o que aconteceu em Roraima é o que pode ser chamando de “morte
oportunista”. Ele tentou minimizar a responsabilidade do governo
federal sobre o episódio e disse que a gestão do sistema prisional cabe
aos Estados.
Horas antes do massacre, o setor de inteligência do
Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo havia descoberto mais uma
ordem vinda da cúpula do PCC para que a facção vingasse as mortes de 60
detentos no Amazonas. A mensagem é uma ameaça à FDN.
“FDN, o que
vocês fizeram hoje vocês nunca mais terão sossego. Porque enquanto tiver
família PCC iremos caçar vocês todos. Podem se esconder nos rios do
Amazonas, porque se vocês saírem do Estado do Amazonas, FDN, iremos
engolir vocês.” Na quinta, outra mensagem do PCC com ameaças aos rivais
havia sido interceptada pela Polícia Civil de São Paulo.
O
presidente Michel Temer lamentou as mortes e “se solidarizou com o povo
do Estado”. Temer se encontra hoje com a presidente do Supremo Tribunal
Federal, ministra Cármem Lúcia.
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