BBC Brasil - A primeira menção ao mesentério publicamente conhecida foi feita por
Leonardo da Vinci em um de seus escritos sobre a anatomia humana no
início do século 16.
Mas esta parte do corpo, que até bem
pouco tempo era considerada apenas um ligamento do aparelho digestivo,
acaba de ser reclassificada.
Ao fim de um estudo que durou mais
de seis anos, cientistas acreditam agora que a estrutura é, na verdade,
um órgão único e contínuo.
Trata-se, portanto, da mais nova descoberta no corpo humano.
"A
descrição anatômica de cem anos atrás era incorreta. Este órgão está
longe de ser fragmentado; é uma estrutura simples, contínua e única",
assinalou J. Calvin Coffey, pesquisador do University Hospital Limerick,
na Irlanda, responsável pela equipe que realizou a descoberta.
A
reclassificação foi publicada em um artigo assinado por Coffey e por
seu colega Peter O'Leary na prestigiada revista científica The Lancet Gastroenterology & Hepatology.
"No
estudo, que foi revisado e aprovado por colegas, dizemos que agora
temos um órgão no corpo que até esta data não era reconhecido como tal",
assinalou Coffey.
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Novo órgão, nova ciência
O
mesentério é uma dobra dupla do peritônio - como se chama o
revestimento da cavidade abdominal - que une o intestino com a parede do
abdômen e permite que ele se mantenha no lugar.
Dessa forma, o estudo das funções deste novo órgão pode abrir caminho para novos métodos cirúrgicos do aparelho digestivo.
J Calvin Coffey/D Peter O'Leary/Henry Vandyke Cart Anatomia do mesentério Mesentério é uma dobra dupla do peritônio 1
Em
2012, Coffey e seus colegas mostraram os resultados de sua pesquisa com
microscópio nos quais sugeriam que o mesentério tinha uma estrutura
contínua, característica necessária para que fosse considerado um órgão.
Desde
então, os pesquisadores se dedicaram a coletar provas para embasar a
reclassificação dessa parte do corpo humano, que culminaram na
publicação do artigo.
E embora o funcionamento do aparelho
digestivo não mude com a descoberta, a confirmação de que esta estrutura
é efetivamente um órgão "novo" abre caminho para novos estudos.
Função
No entanto, depois de detalhar estrutura e
características anatômicas, cientistas pretendem agora entender melhor a
função do novo órgão, além de proporcionar sustentação e permitir a
irrigação sanguínea às vísceras.
"Esse é o próximo passo. Se
entendemos sua função, podemos identificar as anomalias, e estabelecer
quando há uma doença, ou seja, quando o órgão passe a funcionar de modo
anormal", afirma Coffey, em nota enviada à imprensa.
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O estudo, afirmam os especialistas, pode ser a chave para entender
melhor algumas doenças abdominais e digestivas, bem como aprimorar os
tratamentos atuais.
Ou seja, pode permitir, por exemplo, o
desenvolvimento de novas técnicas cirúrgicas menos invasivas, com menos
complicações ou com uma melhor taxa de recuperação do paciente.
Enquanto
a pesquisa não é concluída, uma das mudanças mais imediatas, contudo,
será no ensino da medicina, que passará a incluir o mesentério na lista
dos quase 80 órgãos do corpo humano que conhecemos.
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