O ex-presidente Lula, réu na Operação Lava-Jato e alvo de
sucessivas denúncias de tráfico de influência, corrupção e lavagem de
dinheiro, terá um novo encontro com a Justiça. As suspeitas, fortes, são
de enriquecimento próprio e de seus familiares a partir da venda de
supostas facilidades a grandes empresas e lobistas no governo Dilma
Rousseff. Este é o teor da mais recente denúncia
apresentada pelo Ministério Público Federal nesta sexta-feira e obtida
por VEJA. Nela, segundo a acusação, Lula atuou em benefício da empresa
sueca Saab, fabricante dos caças Gripen, e das montadoras MMC e CAOA a
partir da intermediação do casal de lobistas Mauro Marcondes e Cristina
Mautoni, alvos da Operação Zelotes. No esquema, Lula se vendia como o
homem que mandava e desmandava no governo Dilma. Em troca, recebia
repasses por meio de seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da
Silva. E-mails, atas de reuniões e agendas do Instituto Lula foram
juntados à investigação como prova.
Veja as principais descobertas do
Ministério Público para encaminhar mais uma acusação criminal contra
Lula na Justiça:
Luís Cláudio, o intermediário:
O Ministério Público aponta que Luís Cláudio atuou como intermediário
de Lula para receber dinheiro do tráfico de influência praticado pelo
ex-presidente. De junho de 2014 a março de 2015, o filho caçula do
petista aumentou o patrimônio em 770%, sem explicação lícita. Os
investigadores mapearam, por exemplo, que Luís Cláudio receberia 4,3
milhões de reais, via LFT Marketing Esportivo, e repassaria parte ao pai
político. A deflagração da Operação Zelotes, no entanto, impediu que
todos os repasses fossem feitos. Ao final, Luís Cláudio recebeu 2,55
milhões de reais das montadoras Caoa e MMC e da empresa Saab, fabricante
dos caças Gripen, clientes da empresa Marcondes&Mautoni (M&M),
dos lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni.
A influência sob o governo Dilma:
A acusação imputa a Lula o papel de vender sua influência para tentar
“convencer” a então presidente Dilma Rousseff a fechar contrato com a
empresa sueca Saab, fabricante dos caças Gripen. “[As montadoras] MMC,
CAOA e a SAAB, fraudulentamente, foram levadas a crer que Dilma Rousseff
cederia à vendida influência de Lula, favorecendo-as, e bem por isso
pagaram milhões de reais à M&M”, diz o MP. A partir de agosto de
2013, Lula vendeu supostas facilidades e “aderiu à divulgação que faziam
de que poderia influenciar Dilma Rousseff”. Em um trecho, o
ex-presidente é apontado como o único capaz de sobrepor as resistências
dos técnicos do Ministério da Fazenda quanto à prorrogação de benefícios
fiscais para as montadoras: “Fazenda não quer. Só vai fazer se o Lula
mandar fazer”, diz trecho de documento apreendido.
Reuniões no Instituto Lula:
Para comprovar o tráfico de influência do ex-presidente Lula, o
Ministério Público destaca que Luís Cláudio Lula da Silva acompanhou o
lobista Mauro Marcondes em reunião com o petista. O encontro foi na sede
do Instituto Lula. Houve outras reuniões de Luís Cláudio e do lobista
Mauro Marcondes com o ex-presidente. Uma delas, em 12 de maio do ano
passado, se deu enquanto o filho do ex-presidente ainda recebia
pagamentos da empresa do lobista. No final de agosto de 2015, Mauro
Marcondes encontra Lula novamente, na sede do Instituto, dias depois de
ter sido convocado para depois à CPI do Carf, aberta no Congresso
Nacional. Em depoimento à Polícia Federal, Lula havia negado
peremptoriamente ter se reunido com Marcondes. Os documentos reunidos
pela Procuradoria desconstroem a negativa do ex-presidente. Os
procuradores sustentam que Lula esteve o tempo todo por trás da relação
entre o lobista e Luís Cláudio.
Prorrogação de benefícios fiscais:
Além do tráfico de influência na compra dos caças militares, Lula e
Luís Cláudio atuaram em benefício das montadoras MMC e CAOA por meio de
alterações em uma medida provisória em tramitação no Congresso. A MP 627
prorrogava benefícios fiscais concedidos por outra MP também, segundo o
Ministério Público, moldada a partir de propina. Para garantir a
aprovação da medida provisória nos moldes dos interesses das empresas,
Lula, tratado em mensagens eletrônicas como “LL”, se reuniu com os
lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, mesmo que as alterações
fossem alvo de resistência no governo e, em especial, na equipe
econômica. “Mais uma vez a credibilidade da Administração Pública e a
seriedade do governo Dilma foram relegadas a um balcão de negócios”, diz
a acusação. Trocas de e-mails em poder dos investigadores mostram que,
na transação, ficou acordado repasses mensais de propina à empresa
Touchdown, de Luís Cláudio. Nas conversas, o tema é tratado como
dinheiro ao “futebol americano”. Outro trecho da denúncia, traz uma
anotação que mostra a cobrança de Lula fez para que a CAOA transferisse
300.000 reais que estaria devendo para a Touchdown – o repasse foi feito
pela empresa de Mauro Marcondes.
Documentos falsos: Conforme
a denúncia, uma série de documentos produzidos pelos investigados para
justificar as atividades e os pagamentos é falsa. Tanto a empresa de
consultoria de Mauro Marcondes e Cristina Mautoni produziu relatórios
para a sueca SAAB no ano de 2014, sobre fatos supostamente ocorridos
entre 2010 e 2013, quanto o filho de Lula fez uma colagem de informações
da internet e da Wikipedia a título de consultoria sobre projetos
esportivos. Nas palavras do Ministério Público, “tudo pós-fabricado”.
Dinheiro no exterior: O
casal de lobistas amigo de Lula manteve por seis anos uma conta ativa
no Citibank, omitida por seis anos das autoridades fiscais brasileiras. A
Receita Federal descobriu que, em 2014, eles tinham 56.898,40 dólares
numa conta que deveria estar fechada. Eles também enviaram ao exterior,
em 2013, duas remessas de dinheiro (546.750 reais e 120.000 reais). Eles
compraram um imóvel na região de luxo de Boca Raton, na Flórida,
registrado no nome de um filho – e não declarado no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário