- Nina, 10 anos, e seu irmão Theo, 3 anos, vão à Biblioteca Pública todas as semanas
Nina Fritsche, 10 anos, é uma menina calma e doce. Gosta de ler antes de dormir para acalmar os sonhos. Lê todas as noites. Ela diz que o gosto pela leitura vem desde que era pequeninha. O hábito se tornou tão forte, que Nina ganhou o prêmio da Biblioteca Pública de Santa Catarina, situada no Centro de Florianópolis, como a jovem que mais leu livros neste ano. Ao todo, foram 97 obras lidas.
E ela ainda se gaba de que, nessa conta, ainda poderiam entrar as dezenas de livros que ela retirou no Colégio Aplicação, onde estuda, e os outros tantos que os pais deram de presente.
"Eu já li metade dos livros infantis da biblioteca da minha escola", conta Nina, que também escreve suas próprias historinhas.
Pelas estatísticas, a estudante leu neste ano o que muitos brasileiros não leram durante toda a vida. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 74% da população não toca em um livro desde setembro e 30% nunca comprou um livro em toda a sua vida. No Brasil, há cerca de 50 milhões de analfabetos, muitos funcionais, o que significa que não compreendem nem conteúdos simples.A média de leitura dos brasileiros é de dois livros por ano, e a justificativa principal para o baixo número é falta de tempo. Por outro lado, uma pesquisa da NOP World Culture Score Index, divulgada neste ano sobre "hábitos da mídia em 30 países", aponta o contrário. Na verdade, não falta tempo. Só que que ele é gasto com televisão, rádio e internet, principalmente, redes sociais -- o mesmo estudo coloca o Brasil na 27ª no ranking de leitura.
Maria Cecília, 37 anos, mãe de Nina, conta que a filha também se interessa por tecnologia e deseja um celular, mas que ela não cede porque acredita que não seja a hora. O uso do tablet é bem dosado pela família, segundo ela.
Ao invés de deixar a filha no computador, a psicóloga, com graduação em Letras e que atualmente traduz uma obra do psicanalista Jacques Lacan para o mestrado na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), criou um ritual. Todas as sextas-feiras, leva Nina e o irmão Theo, 3 anos, para a Biblioteca Pública. Enquanto Nina escolhe a próxima leitura, ela encontra algo para o filho. Essa rotina também fez com que Theo fosse premiado. Ele venceu na categoria de 0 a 7 anos por ter retirado 65 livros durante o ano.
O pai, que é jornalista e editor, acredita que a fórmula para estimular as crianças em seus hábitos por leitura é não forçar a barra. "Nunca chamamos a atenção da Nina para que ela lesse. Não queríamos que fosse uma imposição, mas um convite. Até para que ela descubra outras coisas de que goste", conta.
O prazer pela leitura se divide
Além do gosto pelos livros, Nina toca flautas doce e transversal. É com música que deseja trabalhar quando for adulta. "Penso em ser compositora ou fazer sonoplastia de cinema", conta. Ela também faz natação, Kumon em matemática, atividades manuais e ajuda a cuidar a horta da escola. Parece muita coisa, mas os pais enfatizam que o maior esforço é para que os filhos vivam a infância.
"Os livros me ajudam a cuidar das emoções da Nina. Uma vez por exemplo, ela estava chateada com uma professora que ia deixar a escola. Então lemos um conto do Rubem Alves sobre um passarinho que para recuperar a cor precisava voar. Ela entendeu", disse Maria Cecília.
Com a mesma intenção de que as crianças cresçam interiormente, a Biblioteca Pública de Santa Catarina criou o prêmio no ano passado. A estratégia parece ter funcionado. O número de carteirinhas dobrou.
O bom exemplo de Nina também se espalha pela cidade. Os vizinhos da família gostaram tanto dos hábitos de leitura dela e de Theo que compraram quatro livros para lerem com os filhos durante as férias de verão.
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