Sede do PT, em São Paulo, que teve sigilo telefônico quebrado pela Operação Lava Jato  
© Foto: Reprodução/Google StreetView 
Sede do PT, em São Paulo, que teve sigilo telefônico quebrado pela Operação Lava Jato 
O procurador da República Ivan Cláudio Marx, do Ministério Público Federal em Brasília, afirmou que o 'cidadão brasileiro' bancou dívida do PT. Ao denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por obstrução da Justiça - acusação recebida pela 10.ª Vara Federal do Distrito Federal, na sexta-feira, 29 de julho -, Marx descreve ponto a ponto a operação de empréstimo de R$ 12 milhões, realizado em outubro de 2014, do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, junto ao Banco Schahin - o dinheiro, segundo o próprio Bumlai, foi destinado ao PT que, na ocasião, estava em dificuldades de caixa.

"Como se observa, o Banco Schain financiou o PT e depois foi recompensado por meio da utilização de uma empresa controlada pelo governo do mesmo partido. Ao fim, confundindo-se o público com o privado, foi o cidadão brasileiro quem, por meio de seus impostos, financiou o PT", sustenta o procurador.

Trecho da denúncia contra Lula.  
© Foto: Divulgação Trecho da denúncia contra Lula. 
 
A empresa a que se refere o procurador é a Petrobrás. O empréstimo é um capítulo emblemático da Operação Lava Jato. Em contrapartida à liberação do montante, o Grupo Schahin foi contemplado com um contrato sem licitação de US$ 1,6 bilhão com a estatal petrolífera para exploração de navio sonda.

"José Carlos Bumlai, Maurício Bumlai e Cristiane Dodero Bumlai (estes, familiares do pecuarista) receberam um empréstimo fraudulento do Banco Schahin em valor superior a 12 milhões de reais para quitar uma dívida do PT. Posteriormente, e em razão de o PT não ter quitado a dívida, foi utilizada a empresa Petrobrás para 1compensar' o Banco Schahin por meio da contratação, junto à empresa Schahin Engenharia, do navio.,sonda Vitória 10.000 ao custo aproximado de 1,6 bilhão de dólares. Esses fatos foram confirmados por José Carlos Bumlai em seu Termo de Declarações prestado à Procuradoria-Geral da República. Sobre a contratação da Schahin Engenharia pela Petrobrás, para 'compensar'1 a dívida do PT, os depoimentos citados referem a 'bênção' de Lula ao negócio."

O procurador acusa o ex-presidente de fazer parte de um suposto esquema para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional), que fez delação premiada.

A reportagem pediu manifestação do PT, mas ainda não obteve retorno.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LULA
Nota - O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva não recebeu citação relativa a processo que tramita perante a 10a. Vara Federal de Brasília (IPL n. 40755-27.2016.4.01.3400). Mas, quando isso ocorrer, apresentará sua defesa e, ao final, sua inocência será certamente reconhecida. Lula já esclareceu ao Procurador Geral da República, em depoimento, que jamais interferiu ou tentou interferir em depoimentos relativos à Lava Jato.
A acusação se baseia exclusivamente em delação premiada de réu confesso e sem credibilidade - que fez acordo com o Ministério Público Federal para ser transferido para prisão domiciliar.
Lula não se opõe a qualquer investigação, desde que realizada com a observância do devido processo legal e das garantias fundamentais.

Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins -