São Paulo - O PIB do Brasil caiu 0,3% no 1º trimestre de 2016 em relação ao anterior, divulgou hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O
Itaú Unibanco e a pesquisa da Reuters, por exemplo, previam uma queda
mais de duas vezes maior: 0,8%. Isso significa que a recuperação está na
esquina? Sim e não.
Na
medida em que esgota seus estoques, a indústria interrompe sua queda,
ainda que seja para satisfazer uma demanda contida e estabilizar em um
nível historicamente baixo.
Ao
mesmo tempo, a desvalorização do real estimula a substituição de
importações e faz com que o setor externo passe a ajudar (as exportações
subiram 13% na comparação anual).
Só
que o consumo das famílias, grande motor da economia brasileira nos
últimos anos, deve continuar reprimido por um bom tempo por uma
combinação tóxica de desemprego em alta, renda em baixa, endividamento,
inadimplência e falta de crédito.
As
empresas ainda tem muita capacidade ociosa para explorar, então vão
demorar para contratar ou investir (e o investimento só cai há mais de 3
anos).
Também há uma
incerteza enorme sobre os rumos políticos e capacidade do governo
interino aprovar reformas, ainda que já apareçam sinais prematuros de
volta da confiança .
Com o
número de hoje, as expectativas de queda do PIB para este ano devem
ficar mais próximas de 3,5% do que de 4%. A LCA Consultores manteve sua
previsão de 3,2%.
EXAME.com
conversou com 4 economistas, entre eles duas pesquisadores do
economistas do IBRE/FGV, que acertou em cheio o número do trimestre,
para saber o que o número significa e o que vem por aí. Veja o que eles
dizem:
Gesner Oliveira, economista e sócio da GO Associados
"Comparando
com a expectativa de mercado, foi de fato melhor e reforça a ideia de
que a economia está se aproximando do fundo do poço para apresentar uma
modesta recuperação a partir de 2017.
A
grande preocupação segue sendo o investimento, que caiu pelo 13º
trimestre seguido e foi de 19,5% do PIB no 1º tri de 2015 para 16,9% no
1º tri de 2016. A questão é recuperar isso e conter o consumo do
governo, que foi o único número que subiu na comparação trimestral.
A
indústria é um dos segmentos que vai levar essa modesta recuperação
porque houve um ciclo de estoques e uma mudança do nível planejado desde
2013/2014, quando as empresas refizeram suas projeções. Os dados do
setor externo são animadores porque o efeito de depreciação do real está
sendo sentido e as exportações industriais se recuperam, dando um certo
alento, aliado ao ciclo.
O
consumo das familias vai demorar para subir assim como demorou para
cair. O ajuste no mercado de trabalho ainda está ocorrendo e eu temo que
este será mais profundo já que as empresas estão fazendo ajuste não só
marginais mas estruturais. Se você esta pensando em automação, por
exemplo, este é o momento, sobretudo com a rigidez da nossa legislação
trabalhista.
Se a empresa tem
dificuldade de caixa, não tem como dispensar. Quando elas conseguem
algum caixa, dispensam mais. As empresas vao demorar muito para
contratar e isso significa medo (justificado) do desemprego e queda da
renda real, inadimplência e consequente contração da oferta de credito. A
esperança para a economia recuperar é investimento, que é fruto de
expectativa mais regulação."
Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV)
"A
grande boa notícia é que a indústria de transformação saiu um pouco do
fundo do poço - de -3% na comparação trimestral para -0,3%, uma quase
estabilidade. O nível de produção está em nível de 2004 e o setor
externo também tem dado sua contribuição, ainda que modesta. Também tem
um processo ainda muito prematuro de substituição de importação, já que o
câmbio se desvalorizou bastante.
Mas
é preciso cautela. Além da queda forte do investimento, que mexe com o
potencial de crescimento, você tem o problema do consumo das famílias,
que responde por 60% do PIB e agora está em desalavancagem após um boom
enorme do crédito e da renda.
Agora
é o momento de pagar as dívidas contraídas no passado - se não fosse
por isso e pelo desemprego elevado, a recuperação seria mais evidente.
Além
de tudo, ainda temos uma incerteza política muito grande. Apesar da
equipe econômica ser maravilhosa, não se sabe se as medidas de controle
do gasto público vao passar no Congresso.
Também
há o risco de novas eleições ou de volta da Dilma, o que deixa todo
mundo mais cauteloso. Existe espaço em termos de concessões, por
exemplo, e o governo está tentando ir nessa direção, masa ainda faltam
boas notícias no horizonte."
Francisco Pessoa, economista-sênior da LCA Consultores
"Apesar
de ter muita importância, o PIB é um quadro impressionista do que
acontece na economia. Em geral, quando se tem uma diferença mais forte
do previsto, como nesse caso, é mais pela dificuldade de calcular porque
a metodologia ficou mais difícil do que antes. Não dá para dizer onde
que o mercado errou porque se divulga as estimativas totais e não
destrinchadas.
O pessoal foi
surpreendido para pior na agropecuária, que tem bastante a ver com
questões climáticas. Já a indústria veio um pouco melhor do que a gente
imaginava, assim como a construção.
Na
parte de eletricidade, luz e água, por exemplo: se você olha o consumo
de energia, vê que há mais participação da hidráulica, que tem mais
valor adicionado do que a térmica, o que ajuda. E já não se vê uma queda
tão grande no consumo de água e esgoto em São Paulo.
No
investimento, as quedas são tão brutais que eventualmente você enxerga o
fundo do poço. Não é aumentar a capacidade produtiva: é estabilizar lá
embaixo e parar de cair. É inegável que a questão cíclica deve ajudar,
mas o momento é de muita incerteza e situações que nunca se viu antes."
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/IBRE
"Ainda
são números muito ruins e o investimento continua em queda muito forte,
mas todas as pesquisas mostram reversão da confiança e melhora no
ambiente de negócios. Se o governo conseguir aprovar sua pauta ou pelo
menor parte dela, isso pode bater na atividade, mas isso é mais para
frente e dificilmente muda os números deste ano.
É
como se estivéssemos agora mais próximos do fundo do poço; na melhor
das hipóteses, o número pode até ser positivo no 3º trimestre, mas é
mais provável que seja no 4º.
A
construção, por exemplo, ainda está em retração porque a demanda das
famílias está caindo. Se você melhorar a confiança, elas podem voltar
para o mercado imobiliário, mas mesmo assim entre vendas crescerem e
isso significar produção, ainda leva um tempo. Na infraestrutura a
grande esperança é nas concessões e parcerias público-privadas, que
também não trazem demanda imediata."
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