OPINIÃO: A sede de estrelato de Sérgio Moro tem seus
momentos de pura imprudência e irresponsabilidade, digamos, fáticas.
Notem que nem vou tratar aqui do ato destrambelhado, em concerto com o
TRF-4, que consistiu em mandar prender Lula quando havia ainda a
possibilidade de recurso. Afinal, o juiz deixou claro em seu despacho
que ele tem ideias próprias sobre leis… Quero aqui me referir à maneira
que ele escolheu para efetivar a prisão de Lula.
Tribunal e juiz não deram tempo nem mesmo de o sistema prisional e de
a Polícia Federal se preparar para um evento dessa importância.
Comecemos pelo óbvio: desde quando um juiz precisa tornar pública com 24
horas de antecedência que se vai efetivar a prisão? Independentemente
do autoritarismo da decisão, esta deveria ter sido uma ação executada
com o máximo de sigilo. E não teria havido tempo para Lula voltar ao
lugar onde fora preso 38 anos, durante a ditadura militar.
Sob o pretexto de dar a Lula a chance de se apresentar
voluntariamente — em deferência à sua condição de ex-presidente —, o
juiz acabou expondo todos à insegurança, a começar do próprio Lula.
Afinal, a seara política está hoje empestada de malucos de toda sorte.
Nesta sexta, um repórter da BandNews FM flagrou “seguranças” do MST no
encalço de um homem que circulava armado nas imediações do sindicato.
Tiros foram disparados há dias contra um ônibus do PT.
“Ah, foi Lula quem armou o circo!” Se é assim, foi com a óbvia ajuda
do juiz. Não custa notar que temos, mais uma vez, o Dragão da Maldade se
protegendo contra a ação do Santo Guerreiro. As manifestações de
truculência dos petistas contra a imprensa ajudam a compor esse quadro
da luta do Bem contra o Mal.
O que poderia ter sido um ato discreto, efetivo — e aí o PT veria o
que fazer —, ensejou a oportunidade do espetáculo e da mímica da
resistência.
Não é a primeira vez que o juiz age com imprudência e açodamento.
Isso deriva da quase unanimidade de que goza na imprensa — falta pouco
para que, em certos setores, se declare a sua santidade.
Que tenha buscando, mais uma vez, os holofotes, não se duvide. É o
mesmo juiz que concedeu uma entrevista na antevéspera de o Supremo
começar a decidir o destino do habeas corpus que havia sido impetrado
pela defesa de Lula. E não se fez de rogado: mandou ver na pressão
aberta sobre Rosa Weber, na forma de um elogio.
E acho que pesou também um tanto de ingenuidade. É possível que Moro
tenha achado que o petista iria mesmo se apresentar espontaneamente em
Curitiba.
Lula tem amargado sucessivas derrotas na Justiça, é verdade. No
embate com Moto, até agora, perdeu todas porque o outro lhe roubou a
condição de mito.
De política, no entanto, ele entende um pouco mais do
que o juiz.
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