Um dos argumentos mais poderosos em defesa de Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, no ano passado, era o de que se tratava do julgamento de uma pessoa honesta feito por políticos desonestos.
Afinal, de um lado estava o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), um dos principais articuladores do afastamento e alvo de um
processo no Conselho de Ética por ter contas secretas na Suíça. Hoje,
cumpre pena em Curitiba.
Do outro, Dilma, uma presidente contra quem não pesava, pessoalmente, uma acusação sequer de corrupção.
“Saibam que estão julgando uma mulher honesta, uma lutadora de causas
justas. Tenho orgulho de ser a primeira mulher eleita presidenta do
Brasil. Nestes anos, exerci meu mandato de forma digna e honesta. Honrei
os votos que recebi”, dizia a defesa que Dilma enviou ao Senado, em 6
de julho de 2016.
A delação do marqueteiro João Santana e de sua mulher, Mônica Moura, abala o argumento que sustentava essa narrativa.
Por mais que Dilma ainda possa dizer que não colocou dinheiro público
no bolso, a questão da honestidade entrou numa zona cinzenta. Afinal,
seus marqueteiros afirmam que ela sabia do esquema ilegal de
financiamento que irrigou suas duas campanhas, em 2010 e 2014, e que
atuou, quando estava no Palácio do Planalto, para evitar que fosse
descoberto.
Mônica narrou como Dilma lhe sugeriu que transferisse contas na
Suíça, onde recebia o pagamento de caixa 2, para Cingapura, revelou um
e-mail secreto e narrou como a petista ligou para antecipar a prisão do
casal.
Dilma teve trajetória digna até chegar à Presidência: participou da
luta armada contra a ditadura, foi vítima da barbárie da tortura, e
depois seguiu em frente em respeitável carreira de burocrata, até ser
pinçada por Lula.
Não há indício de que Dilma tenha enriquecido com corrupção. Mas
honestidade não é apenas isso, e a nova leva de delações joga uma sombra
sobre sua biografia
Ricardo Noblat
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